O que se sabe sobre as explosões em Beirute, no Líbano

por: Nathalia Bignon
Uma explosão, seguida de um segundo estouro devastador, atingiu fortemente Beirute, a capital libanesa, na última terça-feira (4). A causa da explosão parece esclarecida, mas não o gatilho. Muitas perguntas ainda estão em aberto. Enquanto se investigam as circunstâncias do incidente, o número de vítimas aumenta.
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O que se sabe até agora?
Por volta das 18 horas (horário local) da terça, ao menos duas explosões ocorreram na área portuária da capital libanesa. A partir daí, um incêndio e algumas pequenas explosões, que culminaram numa detonação maciça e sua consequente onda de choque, tomaram conta da área.
Ao menos 135 pessoas morreram e 5 mil ficaram feridas, de acordo com a contagem divulgada pelo Ministério da Saúde do Líbano na última quarta-feira (5). No mesmo dia, a Cruz Vermelha do Líbano havia divulgado um balanço no qual citava 113 mortos e mais de 4 mil feridos.
O primeiro-ministro do Líbano, Hassan Diab, afirmou ainda na terça-feira a tragédia ocorreu pela explosão de 2.750 toneladas de nitrato de amônio estocadas na região portuária há seis anos "sem medidas preventivas.
Um balanço feito pelo portal Deutsche Welle Brasil afirmou que o material ficou armazenado num armazém por seis anos sem as devidas precauções. Há especulações que se trata da carga de um navio que estava a caminho da Geórgia para Moçambique. No entanto, existem declarações distintas sobre o motivo pelo qual a carga foi confiscada.
Segundo a revista alemã Der Spiegel, as autoridades libanesas teriam proibido o navio cargueiro de continuar viagem em 2013 devido a vários defeitos. A tripulação ficou sem combustível e provisões, e o proprietário aparentemente abandonou o navio. A tripulação foi autorizada a deixar o Líbano após uma disputa jurídica. O navio foi deixado em Beirute com a carga, que foi alojada num armazém.
Uma enorme nuvem em forma de cogumelo se formou no céu durante a detonação. Uma onda de choque se expandiu rapidamente pela cidade. Houve danos a quilômetros de distância. No porto de Beirute, os contêineres ficaram amassados, como latinhas de sardinhas, com o conteúdo espalhado pelo chão.
Houve focos de incêndio em navios, carros ficaram carbonizados. Nas ruas próximas, vidraças e vitrines ficaram destruídas. Uma enorme fumaça pairou sobre toda a área do porto. Mesmo horas após as explosões, helicópteros circulavam a área para combater as chamas. Equipes de resgate vasculharam os escombros durante a noite em busca de mortos e feridos.
Em discurso à nação, Diab prometeu que os responsáveis pelo desastre "pagariam por isso. "Isso é inaceitável e não podemos permanecer calados, disse Diab.
Para que serve o nitrato de amônio?
O nitrato de amônio é um sal inodoro formado a partir de amônia e ácido nítrico, bastante utilizado na agricultura, para a produção de fertilizantes, e na construção, para explosivos.
Como poderia pegar fogo?
Apesar de saber a origem das explosões, ainda não está claro por que o nitrato de amônio explodiu. O professor de química Jimmie Oxley, da Universidade de Rhode Island, disse à agência de notícias AFP que o nitrato de amônio é difícil de inflamar sob condições normais de armazenamento e a temperaturas moderadas. Ele suspeita que houve uma pequena explosão que iniciou a reação química do nitrato de amônio.
Especialistas em explosões e substâncias explosivas analisaram gravações em vídeo para a agência de notícias AP. Segundo eles, a primeira detonação e os incêndios menores podem estar relacionados à queima de fogos de artifício.
Em casos normais, o nitrato de amônio é armazenado sob condições estritas: o produto químico não deve estar perto de combustíveis ou fontes de calor. Em muitos países da União Europeia (UE), o nitrato de amônio precisa ser misturado à cal por motivos de segurança. A substância levou a numerosas explosões perigosas no último século desde acidentes, ataques industriais e atentados.
Em setembro de 1921, a explosão de nitrato de amônio numa fábrica da Basf, na cidade alemã de Ludwigshafen, resultou na morte de mais de 500 pessoas. A bomba fabricada para o atentado de Oklahoma, em 1995, também continha a substância. E o extremista de direita norueguês Anders Breivik também usou o componente químico no carro-bomba detonado em Oslo, em julho de 2011.
Poderia ter sido um atentado?
Não há evidência pública das autoridades libanesas de que a explosão foi deliberada. Grupos extremistas tampouco assumiram a autoria de um possível ataque. Na noite de terça-feira, o presidente dos EUA, Donald Trump, disse que generais americanos informaram que as explosões foram aparentemente causadas por "algum tipo de bomba. "Parece um ataque terrível, disse Trump.
Quando questionado sobre as declarações de Trump, um porta-voz do Pentágono retrucou à AFP: "Não temos nada para você. Você precisa entrar em contato com a Casa Branca para obter esclarecimentos.
Como está a situação em Beirute?
O governador da província de Beirute, Marwan Abboud, disse que entre 250 mil e 300 mil pessoas ficaram desabrigadas. Segundo Abboud, os danos se estenderam a mais da metade da área da capital libanesa e são estimados em US$ 3 bilhões (quase R$ 16 bilhões). Ele também informou que um relatório de segurança alertou em 2014 para uma possível explosão em Beirute porque materiais altamente explosivos não estariam armazenados corretamente.
As equipes de resgate continuam procurando por vítimas sob os escombros. As buscas também seguem na água, já que a intensidade da explosão lançou muitas vítimas ao mar. De acordo com a Cruz Vermelha, muitos dos mortos eram funcionários do porto e da alfândega de Beirute.
Durante a noite, uma queda de energia em grandes partes da cidade afetou as buscas. Segundo relatos de autoridades de segurança, ao menos 100 pessoas ainda estão desaparecidas. Vários países ofereceram ajuda e estão enviando equipamentos, especialistas e cães treinados para procurar as vítimas.
Os hospitais de Beirute, que já estavam sobrecarregados devido à epidemia da Covid-19, ficaram completamente lotados com a chegada dos numerosos feridos. "É literalmente um desastre resumiu o ministro da Saúde do Líbano, Hamad Hassan.
Diante da catástrofe, libaneses também correm o risco de viver uma crise alimentar. De acordo com o ministro da Economia, Raoul Nehme, a explosão destruiu o principal silo de grãos do país, deixando o Líbano com menos de um mês de reservas de trigo.
O ministro afirmou que há navios a caminho para cobrir as necessidades a longo prazo. O porto de Beirute, entretanto, era a principal porta de entrada para os alimentos importados.
Por que os danos são tão grandes?
A explosão principal foi ouvida em todo o país e também em Nicósia, a capital do Chipre, localizada a 240 quilômetros no Mar do Mediterrâneo. Segundo sismólogos, a explosão pode ser comparada a um terremoto de magnitude 3,3 na escala Richter. A explosão causou uma onda de choque maciça.
Prédios próximos ao porto desabaram. Até no aeroporto, situado a nove quilômetros de distância, janelas estouraram. Estima-se que a onda de choque teve a força de um tornado. O armazém estava localizado perto de um distrito comercial e de entretenimento.
Pior crise do Líbano
A tragédia em Beirute ocorre no pior momento da história recente do Líbano. O país atravessa uma crise econômica aguda e uma onda de protestos de rua em meio à pandemia.
O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, afirmou que o país fará "algo concreto para atender em parte aquelas pessoas que estão numa situação complicada. O Itamaraty afirma haver entre 7 e 10 milhões de descendentes de libaneses no Brasil.
O chanceler Ernesto Araújo se reuniu nesta quarta com o embaixador libanês, Joseph Sayah, para "tratar da cooperação que será oferecida pelo Brasil ao Líbano.
A Câmara de Comércio Árabe-Brasileira informou que está em contato com Beirute para identificar as necessidades imediatas a serem atendidas. A expectativa da entidade é que uma doação de materiais seja despachada nos próximos dias, junto com a ajuda anunciada pelo governo brasileiro.
Julgamento adiado
Na última quarta-feira (5), o Tribunal Especial para o Líbano (TSL) adiou o anúncio do veredito do julgamento dos acusados pelo atentado que matou o ex-primeiro-ministro Rafik Hariri.
Segundo a corte, a decisão será comunicada no dia 18 próximo "por respeito às inúmeras vítimas [
] e aos três dias de luto público no Líbano, decretado após a tragédia.
Com informações da Deutsche Welle e Folha
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